Sobrevivente do incêndio na boate Kiss, que ocorreu na madrugada deste domingo em Santa Maria (RS) e deixou 245 mortos, a estudante de gestão ambiental Shelen Rossi descreveu a tragédia como um “circo de horrores”. A jovem, de 19 anos, confirmou que as chamas foram causadas por um show pirotécnico da banda Guirizada Fandangueira e que os seguranças do estabelecimento atrapalharam a fuga porque queriam que todos pagassem a conta.
Shelen contou que o teto da boate era baixo e ficava bem próximo ao palco. O vocalista da banda estava com fogos de artifícios nas mãos, fazendo movimentos circulares, quando uma faísca encostou no teto e na espuma do isolamento acústico.
- Ele estava com muitos fogos nas mãos. Os dois primeiros não pegaram no teto, mas o terceiro pegou. Foi uma questão de segundos. Logo veio uma massa de fumaça muito forte e preta. Os pedaços de espuma caíam em cima das pessoas, e os seguranças trancaram a porta. Até que um guri conseguiu quebrá-la. Houve empurra-empurra, me derrubaram, mas foi aí que consegui fugir - disse Shelen. - Só tinha uma saída, a porta era pequena. Levei bastantes pisões, porque tinha muita gente apertada e todo mundo queria sair.
Segundo Shelen, logo depois do fogo começar, integrantes da banda tentaram usar extintores de incêndio da boate para apagar as chamas, mas os extintores não funcionaram. Ela também disse ter visto pessoas correndo com baldes d’água na tentativa de controlar a situação.
Para a estudante, ela sobreviveu ao acidente graças a um milagre. Ela teve alta do hospital na manhã deste domingo, depois de passar a madrugada recebendo oxigênio e soro. Ainda sente dor na garganta, ardência nos olhos, fraqueza, está com a visão distorcida e tosse bastante ao falar.
- Estava com minha amiga perto do palco, mas como eles começaram a soltar muitos fogos, subimos para outra parte da boate. Foi uma benção de Deus, graças a Deus que saímos de perto do palco, senão poderíamos estar agora entre os mortos - disse a jovem, aliviada. - O lugar para onde fomos era perto da porta de saída. Quem estava perto do palco demorou mais a sair.
- Quando eu saí, pedi socorro a uns meninos que estavam em frente à boate. Eles me pegaram no colo e me tiraram dali, porque tinha muita fumaça. Depois me deram água e um casal que estava estacionado na praça me levou para o hospital mais próximo. Lá, veio uma pessoa, acho que era um enfermeiro, que me disse: “Calma, moça, você não vai morrer”. Mas não tinha como eu pensar que não ia morrer. Ficamos em estado de choque. Parecia cena de filme. A gente jamais pensa que vai acontecer com a gente, ainda mais numa boate consagrada de Santa Maria. Extra